sexta-feira, 1 de outubro de 2010

As figuras da intersubjetividade e a prática docente

Por: Lucival Santos

O relacionamento entre indivíduos no ambiente localiza-se no campo da ação, ou na liberdade de ação, o que implica a negociação com o outro. Neste sentido, a intersubjetividade é a relação entre sujeito e sujeito e/ou sujeito e objeto. Portanto, compreender os processos nos quais se dão essas relações, compreender a si mesmo como ponte de partida para a compreensão do outro, significa uma tarefa importante para o professor, uma vez que este está em contato com diferentes indivíduos. Veremos a seguir algumas reflexões sobre de que forma as quatro matrizes intersubjetivas contribuem para a prática docente.
Sobre a educação comenta um teórico que trouxe grandes contribuições e perspectivas para a educação, que o papel desta encontra-se ligado ao encaminhamento do sujeito à liberdade. “Educar é saber lançar no chão fértil do outro - meu aluno, meu companheiro, alguém com quem diálogo saberes, sonhos, e valores - a semente que adiante faça germinar em seu coração o desejo de partilhar com os outros o diálogo da construção de um mundo de justiça, de igualdade e liberdade.” (BRANDÃO 1995, s/p). Nesta perspectiva, podemos afirmar que do ponto de vista da intersubjetividade trans-subjetiva o processo educativo se dá na medida em que o professor percebe o aluno como o outro que deve ser conhecido, partindo do principio que o conhecimento do outro deve partir da consciência de si mesmo.
A consciência é inseparável de sua expressão em conseqüência do conjunto cultural de seu meio. Nesse contexto, quando o professor percebe que existe uma indiferença entre o eu e o outro, ele passa a adquirir um novo olhar sobre o aluno, refletindo sua prática e ações percebendo que o mesmo é o sujeito do processo de ensino-aprendizagem, portanto seu objeto de estudo, isto é, não se pode definir previamente quais serão seus desejos e aspirações, dificuldades e habilidades.
Na intersubjetividade Tramáutica a alteridade exige trabalho em processos permanentes de inadaptação entre eu e outro. Trazendo essa idéia para o contexto escolar, percebemos que em muitos casos existe entre educandos e educadores uma resistência aos padrões mentais por ambas as partes. Isto é, não há uma percepção do outro como um individuo com desejos, vontades, e necessidades próprias a condição humana. O trabalho educativo partindo desse pressuposto requer a compreensão dos sujeitos envolvidos como seres diferentes. É necessária uma prática pedagógica voltada para o respeito às diferenças evitando que estereótipos sejam criados e conseqüentemente a relação interpessoal se caracterize como conflituosa e traumática dificultando o processo ensino aprendizagem.
Ao se tratar das relações interpessoais no campo educativo as mesmas se constituem numa constante interação entre o eu e o outro. Não se pode perder de vista que a aprendizagem se dá em meio às trocas de experiências e saberes entre todos os envolvidos. A escola é o espaço em que o aluno encontra respostas sobre si mesmo, o outro e posteriormente o meio em que está inserido. Cabe aos educadores oferecer subsídios para que os educandos desenvolvam a consciência de que são agentes ou sujeitos sociais que interagem constantemente como outros indivíduos.
Num plano inconsciente e consciente, o outro comparece como uma presença-ausente. Nesse sentido, os alunos são marcados por aquilo que sabe e escolhe assim como pelo que é invisível, não perceptível. Seus comportamentos advêm tanto da subjetividade quanto da objetividade. Referindo-se a esfera subjetiva,muitas atitudes são incompreendidas pelos educadores quando ignoram os processos psicológicos e também os emocionais que interferem no desempenho escolar dos estudantes. Assim, a compreensão da intersubjetividade Intrapsíquica favorece o desenvolvimento da aprendizagem, uma vez que o professor poderá potencializar a investigação em sala de aula visando apoiar o educando na construção do aprendizado, mediando a relação dele como o conhecimento e se necessário encaminhando-o para uma avaliação diagnostica junto a um profissional da área psíquica.
Em suma, a formação docente deve contemplar os saberes sobre a intersubjetividade no ato de educar, integrando na metodologia de ensino o respeito à esfera subjetiva do indivíduo, para que esse realize os aprendizados cognitivos e formais. Pois, o processo de aprendizagem do educando passa pela intuição, pelos sonhos, seus desejos e pela afetividade. Sendo esta última, estimulada por meio da vivência educativa, na qual o educador estabelece um vínculo de afeto com o educando. Dessa forma, entendemos como fundamento educativo, que o educador perceba esses saberes, para que essas dimensões subjetivas do aluno sejam uma ponte entre o professor-aluno e o aprofundamento dos saberes no processo educativo.

Referencias:

SILVA, Rafael Bianchi. Psicologia da Educação: história. Págs: 140 a 181. – São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.
Sites:
http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-29072004000100002&lng=es&nrm Acesso 27/05 às 14:00
http://www.smarcos.br/interacoes/arquivos/artigo_17.pdf
Acesso 27/05 às 17:00

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