sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A relação História e ciência, numa concepção iluminista
Autor: Lucival santos

O século XVIII é marcado por uma sociedade em transformação, pela desestruturação final do feudalismo e o avanço da ordem burguesa.Tal transformação renascentista, dá origem ao Iluminismo, corrente filosófica pautada na razão, a qual aproxima História e ciência, sendo estas as bases para o entendimento do mundo.
A tentativa do homem em compreender a origem da vida, a si mesmo, aos fatores naturais e sociais é tão velha quanto ele próprio e cada grupo tem uma maneira particular de procurar desvendar estes mistérios.Antes da ciência, existiam as lendas,fábulas e mitos.Não tendo ainda explicações racionais que pudessem ser demonstrados cientificamente, os homens criaram histórias que o ajudassem a compreender a si mesmos e a própria natureza.
Com a desconfiguração do mito, nasce a História inicialmente conceituada como narração, isto é, o historiador seria um memorialista escrevendo uma história do presente.Mas tarde, a História continua sendo considerada narrativa, porém ganha uma finalidade didática de ensinar e criar modelos de comportamento para os homens.
A partir do século XVIII, havia uma História interessada em explicar acontecimentos realmente importantes e em relacionar os fatos entre si.A palavra História ganha vários significados, como estudo de um acontecimento, processo político, estudo cientifico da evolução das sociedades humanas, por fim a História é definida como base da experiência humana, um constante processo de construção, desconstrução e reconstrução.
O iluminismo traz em si a noção de natureza e do universo como coisas mutáveis, a idéia de progresso.Procura mostrar a História como sendo o desenvolvimento linear, progressivo e interrupto da razão humana.Para ele, o conhecimento se aproxima mais da verdade, pois a humanidade irá cada vez mais dominar a natureza, numa evolução progressiva e constante.
Nessa perspectiva, os pensadores iluministas pregavam a emancipação dos homens em sociedade a partir do uso consciente da própria razão.Diziam, de si mesmos, que traziam as luzes contra as trevas da ignorância, dos dogmas religiosos e dos privilégios ao absolutismo já em decadência, que queriam tornar claras as coisas do mundo as quais estavam obscuras, sem clareza.
Na historiografia, o filosofo Voltaire (1694-1778) chamava à atenção para a necessidade de uma História que ultrapasse as crônicas de reis e poderosos, defendia uma história explicativa e não narrativa.
Essa nova História, fundamenta-se na cientificidade, pois o historiador ganha novo papel deixa de ser apenas narrador de acontecimentos e fatos, passa a ser detetive, investiga a partir dos fatos, aceita ou recusa interpretações já existentes,colhe depoimentos e chega a conclusão.Nessa busca pela verdade é que podemos perceber o quanto ciência e História encontram-se inter-relacionadas, nesse processo de construção e transformação de pensamento.Foi o pensamento histórico entre a emergência do Iluminismo, a base ideológica para as Revoluções Burguesas( Revolução Industrial e Revolução Francesa),as quais caracterizou-se por um otimismo generalizado sobre as potencialidades humanas de atingir a felicidade geral.Para os pensadores da ilustração, era possível que o progresso e o desenvolvimento coletivo das sociedades fossem conseguidos com reformas sociais.O pensamento sobre a História acompanhou esse otimismo.Com melhores métodos e técnicas de pesquisa, acompanhados de uma crença de que era possível compreender o sentido dos fenômenos sociais ao longo dos tempos, imaginava-se que seria possível entender a lógica dos acontecimentos humanos.
A Revolução Francesa, síntese desse esforço coletivo de transformação, longe de ser uma reforma harmoniosa, ao mesmo tempo em que despertou e popularizou o gosto pela historia, foi responsável por irrecuperáveis destruições de documentos e obras de arte relacionada ao Antigo Regime (Silva,2001).
Assim como o Iluminismo, o Materialismo Histórico busca para a História, a tentativa de estabelecer bases cientificas para o estudo dos fatos e descobrir leis que os expliquem,sempre acompanhados por farta documentação, dando seqüência e complementando o pensamento dos iluministas.
O materialismo histórico sistematiza uma concepção de história articulada a prática revolucionária, para mudar o presente.Assim, a idéia de que a evolução histórica acontece através do conflito, da luta entre as classes sociais, entre ricos e pobres, os que dominam e os que são dominados, teve grande influência nesse período de desenvolvimento da História.
Hegel da mesma forma como os iluministas, ousava continuar pensando na história sobre um ponto de vista universal.Para ele, por mais que estejamos informados sobre os fatos do presente, dele não temos senão uma pálida percepção instantânea e localizada,e não uma reflexão consistente.Essa compreensão efetiva do presente só pode ocorrer por meio do conhecimento do sentido do desenvolvimento histórico universal.Portanto, mais do que o resultado final do desenvolvimento histórico, interessa o processo que leva ate ele, que mudanças ocorrem, onde, por que e como ocorrem, como se articulam o que muda e o que permanece e que leis regem tais mudanças (LEOPOLDO E SILVA,1987) .
Em Hegel, encontramos um vigoroso e complicado sistema metafísico no qual, a realidade, para ele, é, ao mesmo inteligível , do ponto de vista racional das idéias e um processo evolutivo e dinâmico.Sendo “a história desenvolvida em fases determinadas”(...) “estando cada fase intimamente relacionada com a precedente “(p.73).
Os idealistas alicerçaram suas interpretações da história dos homens a partir de leis universais, a saber, no âmbito “Espírito,” impondo exemplos únicos e suficientes para explicar o funcionamento de todas as sociedades e de sua evolução no tempo.Os fenômenos investigados por idealistas partem do pressuposto de que a História “pertencem ao domínio do espírito,” sendo que, o termo Mundo inclui tanto a Natureza física, quanto a natureza psíquica.”Natureza e Espírito” desempenham papéis fundamentais na História tendo o “Espírito” função preponderante.
Vale lembrar que tanto Immanuel Kant quanto Georg W.F.Hegel, partilhavam de um conceitual ilustrado, iluminista na essência, cujo referencial teórico baseava-se nos postulados racionalistas do século XVII e XVIII.
Décadas depois de Hegel, Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engles (1820-1895) burlaram estabelecer não uma filosofia de história, mas, sobretudo, uma proposta de ação política articulada a uma concepção global da história da humanidade.
Em resumo, é a partir dos iluministas que surge a preocupação com uma História explicativa que se fundamenta na investigação dos fatos,comprovação das hipóteses,sendo estas etapas do processo cientifico, as quais interligam ciência e História ou faz da História uma ciência em constante construção.Preocupação esta comum aos pensadores marxistas.

REFERÊNCIAS:

ANASTACIA, Carla; RIBEIRO,Vanise.Brasil encontros com a História.Volume I –São Paulo:Editora Brasil,1996.


FERRAZ, Francisco César . Historiografia.In.UNIVERSIDADE NORTE DO PARANA . Licenciatura em História.Módulo 2. Londrina, UNOPAR, 2007.


RIBEIRO, Vanise. O caminho percorrido pela História. Estudos Sociais, São Paulo, 1992.

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