sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Che Guevara e a repercussão do socialismo na América Latina

Por: Lucival Santos¹

Falar sobre a construção da idéia de heróis dentro da mídia e na História, seja ela do Brasil ou do mundo, foi algo muito comum durante muito tempo. Embora, essa prática não seja mais aceitável na Historiografia, bem como nas propostas pedagógicas e educacionais atuais. Por outro lado, a mídia continua a exercer essa função. Dentre vários personagens que antes a mídia tinha como herói e hoje tem como farsa, destacamos o polêmico socialista Che Guevara, como foco de base para nossa discussão.
Em primeiro lugar, precisamos saber um pouco sobre a vida desse líder revolucionário conhecido mundialmente como Che Guevara. Ernesto Guevara de La Serna nasce na cidade argentina de Rosário no dia 14 de junho de 1928, no seio de uma família aristocrática, porém de idéias socialistas. Desde pequeno sofre ataques de asma e por essa razão em 1932 se muda para as serras de Córdoba. Estudou grande parte do ensino fundamental em casa com sua mãe. Na biblioteca de sua casa havia obras de Marx, Engels e Lenin, com os quais se familiarizou em sua adolescência.
Ernesto Guevara era formado em Medicina, pela faculdade da Universidade de Buenos Aires. Em julho de 1953, inicia sua segunda viagem pela América Latina. Nessa oportunidade visita Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, El Salvador e Guatemala. Ao visitar as minas de cobre, as povoações indígenas e os leprosários, Ernesto dá mostras de seu profundo humanismo, vai crescendo e agigantando seu modo revolucionário de pensar e seu firme antiimperialismo. Na Guatemala conhece Hilda Gadea, com quem se casa e de cuja união nasce sua primeira filha.
Segundo ele, “a revolução era a única solução possível para acabar com as injustiças sociais existentes na América Latina”. Em 1954 Guevara marcha rumo ao México, onde se une aos movimentos integrados por revolucionários cubanos seguidores de Fidel Castro. Foi aí onde ele ganhou o apelido de "Che", por seu jeito argentino de falar. Além do cargo de doutor, Che assumiu durante a revolução o comando do exército revolucionário.
Com o sucesso da Revolução, Che Guevara se transforma na mão direita de Fidel Castro no novo governo de Cuba. É nomeado Ministro da Indústria e posteriormente, Presidente do Banco Nacional. Também, desempenha simultaneamente outras tarefas diversas, de caráter militar, político e diplomático. Depois de muitas batalhas, terminaram derrotados e no outono de 1965. Desde então, Che deixou de aparecer em atividades públicas. Sua missão como embaixador das idéias da Revolução Cubana tinha chegado ao fim. Em 1966, junto a Fidel, prepara uma nova missão na Bolívia, como líder dos camponeses e mineiros contrários ao governo militar. A tentativa acabou significando sua captura e posterior execução no dia 9 de outubro de 1967.
Vejamos um pequeno trecho escrito por Che Guevara, em que ele se define como latino americano: “Nasci na Argentina; não é um segredo para ninguém. Sou cubano e também sou argentino e, se não se ofendem ilustríssimas senhorias da América Latina, me sinto tão patriota de qualquer país da América Latina, que no momento em que fosse necessário, estaria disposto a entregar a minha vida pela liberação de qualquer um dos países da América Latina, sem pedir nada para ninguém, sem exigir nada, sem explorar ninguém”.
Agora que já sabemos um pouco sobre a vida de Che Guevara, podemos discutir sobre as duas versões a respeito dele: a visão negativa neoliberal de direita como “farsa” (publicada pela Revista Veja, em 03 de outubro de 2008) e a visão positiva de esquerda de “herói” (reportagem publicada pela revista Caros Amigos).
Segundo a revista Veja que traz como manchete: Há quarenta anos morria o homem e nascia à farsa, “... o mito é particularmente enganoso por se sustentar no avesso do homem que foi, pensou e realizou durante sua existência. Incapaz de compreender a vida numa sociedade aberta e sempre disposto a eliminar a tiros os adversários – mesmo os que vestiam a mesma farda que ele, - Che, é paradoxalmente, visto como um símbolo na luta pela liberdade... Tendo ajudado a estabelecer um sistema de penúria em Cuba, Che agora é apresentado como um símbolo de justiça social. Politicamente dogmático aferrado com unhas e dentes à rigidez do marxismo-leninismo em sua vertente mais totalitária, passa por livre-pensador”.
Neste sentido, para Diogo Schelp Che não passa de um ser desprezível que a todo tempo manipulava os revolucionários usando ideais de instauração da democracia em Cuba, quando na verdade seu objetivo era dá um golpe comunista dentro da revolução. Para ele, três fatores ajudaram a consolidar a imagem de herói de Che. “O primeiro refere-se a sua morte prematura, que eternizou sua imagem jovem; o segundo a ajuda involuntária de seus algozes e o último a contribuição recebida pelos esquerdistas através do contexto histórico”.
Contrárias às idéias de direita, os esquerdistas acreditam que Che Guevara deixou um grande legado para o mundo. Segundo a reportagem da revista Caros Amigos: ...” seria perigoso “ mantê-lo vivo, pois poderia gerar ainda mais revoltas populares em todo continente. Decididamente, a contribuição de Che, por suas idéias e exemplo, não se resumem a teses de estratégias militares ou de tomadas de poder político. Nem devemos vê-lo como um super-homem que defendia todos os injustiçados e tampouco exorcizá-lo, reduzindo-o a um mito.
Para João Pedro, Che sempre defendeu a integração completa dos dirigentes com a população, evitando populismos demagógicos. Denunciava o fetiche do consumismo, defendia com ardor a necessidade de elevar permanentemente o nível de conhecimento e de cultura de todo o povo. Por isso Cuba foi o primeiro a eliminar o analfabetismo, e na América Latina a alcançar o maior índice de ensino superior. Por tudo isso, devemos acreditar no Che, e hoje reverenciar o Che, é acima de tudo cultivar esses valores da prática revolucionária que ele nos deixou como legado.
Uma vez que já vimos às duas visões sobre quem terá sido Ernesto Guevara, é importante analisar um escrito do próprio Che onde ele destaca o porquê de sua prática na divulgação do Socialismo na América:
“Toda a nossa ação é um grito de guerra contra o imperialismo e um clamor pela unidade dos povos contra o grande inimigo do gênero humano: os Estados Unidos da América do Norte. Em qualquer lugar que a morte nos surpreenda, que seja bem-vinda, sempre que esse, nosso grito de guerra, tenha chegado até um ouvido receptivo, e outra mão se estenda para empunhar nossas armas, e outros homens se prestem a entoar os cantos pesarosos com estrondos de metralhadoras e novos gritos de guerra e de vitória”.
Vale salientar que em História não há uma verdade absoluta, pelo contrário há sempre três verdades: a do historiador, e a de quem comete e sofre a ação, isto é, se analisarmos o Descobrimento do Brasil, teremos a versão do colonizador, do nativo e do historiador. Sendo esta resultado do ponto de vista de cada um. Neste sentido, acredito que não posso dizer que Che tenha sido uma farsa como alguns alegam, bem como de que teria sido um herói. Penso que ambas as versões tenham algo de “verdade e de mito”, porém devemos lembrar que cada um dos grupos sociais, sejam eles liberais ou esquerdistas tem seus interesses, ideologias e preocupação em construir uma imagem de defensores dos interesses do povo, perante a mídia.
Portanto que tem o poder de criar ídolos, heróis se não à mídia? Quem controla a mídia se não os que detêm o poder econômico? Por que só agora 40 anos após a morte de Che a mídia tenta destruir o mito como define a revista Veja, que ela própria construiu? Por que a equipe da Veja não entrevistou pessoas de visões esquerdistas para confrontar as opiniões ao invés de abordar apenas idéias de direita?Por que Che teria sido morto, se não fosse uma ameaça para os capitalistas?
Todas essas questões e muitas outras, são necessárias para que possamos formar nosso próprio conceito de quem realmente foi Ernesto Guevara, para que não sejamos meros receptores e reprodutores das idéias abordadas pelos autores aqui apresentados. Contudo algo me intriga: por que será que o socialismo não deu certo nos demais países da América? Teria sido a falta de apoio popular ou o apoio do EUA aos imperialistas?
Ambas as opções tem fundamentos, principalmente a segunda, pois não podemos esquecer que os Estados Unidos temia que a América se tornasse um continente socialista, por que isso seria uma ameaça a sua hegemonia econômica, ao capitalismo. Contrário ao capitalismo, o socialismo de Cuba é um “sistema” político voltado para os ideais marxistas, como comprova o trecho abaixo:
“Para construir o comunismo, simultaneamente com a base material tem que se fazer o homem novo.” (GUEVARA, 2005, p.51). Portanto, sua concepção ressalta que a sociedade cubana deveria forjar um novo indivíduo, e este seria a negação dialética do homem alienado, soterrado pelo pensamento individualista burguês do capitalismo.
Por fim, o que desejo aqui não é defender Che Guevara como herói, tampouco defini-lo como mito, mas acredito que ele tenha sido sim um humanista, um homem, um sujeito histórico que merece respeito, pois ainda que tivesse seus próprios interesses e ambições, defendia uma ideologia que acreditava ser melhor para o povo, para a América, para o mundo. Embora o socialismo, as revoluções em si, tenham trago mortes, injustiças, fome e misérias, poderia ser um sistema político de sucesso se as pessoas não fossem tão consumistas e atraídas pelo poder, luxo, dinheiro, se não fossem tão carentes de amor ao próximo e a si mesmo.
Trabalhar com conteúdos como esse requer muito cuidado, pois não devemos influenciar de forma alguma os nossos alunos na formação de suas opiniões e conceitos. Portanto exige trabalho, pesquisa e cronograma das atividades (dividir em etapas: antes, durante e depois) a serem desenvolvidas durante as aulas.
No primeiro item, a antecipação é necessário fazermos a apresentação do conteúdo, fazendo algumas questões tais como: Vocês já ouviram falar em socialismo na América? E em Che Guevara? O que vocês sabem sobre ele? Em seguida registrar as respostas dos alunos e levantar com eles algumas hipóteses a respeito do tema, que serão confirmadas ou não durante ou após a pesquisa.
O próximo passo é a pesquisa propriamente dita. É momento de introduzir o conteúdo, disponibilizando um texto sobre o Socialismo na América Latina para os alunos, pedindo que os mesmos façam uma síntese retirando as principais idéias. Depois orienta-los na pesquisa de campo, pedindo que eles pesquisem sobre quem foi Che Guevara (biografia).
Na aula seguinte, abrir o espaço para a socialização das pesquisas. Na seqüência, esclarecer que existem duas versões sobre ele: uma como farsa outra como herói e disponibilizar os textos em grupos de três alunos, alternando um texto diferente para cada grupo. Depois pedir aos grupos que apresentem as versões sobre o revolucionário (sendo estas registradas em um cartaz, por tópicos). Analisar as colocações dos grupos e fazer minhas considerações e intervenção sobre o tema para fechar o assunto.
Na última aula, eu faria um debate em grupos, pedindo que eles se dividam em quem vê Che como farsa e quem o vê como herói, questionando o porquê de sua opinião. Verificar se suas hipóteses eram verdadeiras. Para concluir pedi que produzam um texto dizendo quem foi de fato o revolucionário socialista cubano Che Guevara e quais os seus ideais, explicitando que eles devem apresentar no texto as duas visões sobre ele e que devem emitir suas opiniões, fundamentando-as.

1.Lucival Fraga dos Santos.Pós Graduando em Metodologia e Didática do Ensino Superior,Pela Faculdade de Santa Cruz da Bahia, Licenciado em História pela UNOPAR.Professor de HIstória do Ensino Fundamental I e II na Escola Arvoredo e no Colegio João XXIII.

REFERÊNCIAS:

SCHELP, Diogo e TEIXEIRA, Duda. “Há quarenta anos morria o homem e nascia a farsa”. Revista Veja. Edição Especial – 03 de abril de 2007.
STEDILE, João Pedro. “O legado de Che Guevara”. Revista Caros Amigos – Outubro de 2008.
Sites:
www.fortunecity.com/tinpan/rioroard/318/guevara.hotmail e www.e-guevara.com/. Acessados em 05 /10/2008 às 15:00 e 06/10/2008 às 17:30 mim.
http://www.mibsasquerido.com.ar/Personagens06.htm. Acesso em 07/10/2008 às 19:00h.
http://blog.controversia.com.br/2007/10/06/che-guevara-um-revolucionario-exemplar/. Acesso em 09/10/2008 às 18: 15 mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário