sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O caminho percorrido pela História: métodos de ensino e o compromisso com a construção da cidadania

O caminho percorrido pela História: métodos de ensino e o compromisso com a construção da cidadania
Por: Lucival Santos

Como todo fator social, a Educação sofre transformações ao longo do tempo, embora aqui elas aconteçam de forma gradativa. Neste sentido, para compreender a História enquanto disciplina escolar e ciência exigem conhecer suas bases de formação, bem como fazer uma retomada a história do ensino de História no Brasil. E para isso, temos como fontes norteadoras os textos: História do ensino de História no Brasil: uma retomada plural, Sobre a norma e o óbvio: a sala de aula como lugar de pesquisa e O ensino de História e a construção da cidadania.
No primeiro texto, a autora Helenice Aparecida define a disciplina escolar a partir de um referencial amplo e contemporâneo. Contudo, ela procura mostrar que, ao longo do século XX, os estudos sobre as disciplinas escolares estiveram demarcados ora pela Sociologia, ora pela História da Educação.
Segundo a autora, acerca dos trabalhos sobre as disciplinas escolares até a década de 1970, algo merece atenção especial: a tendência a enxergar a instituição escolar, as políticas educacionais e o pensamento pedagógico como contextos explicativos privilegiados para os conteúdos e os métodos ensinados nas escolas.
Na seqüência ela faz uma analise da coerência entre as tendências apresentadas anteriormente e as pesquisas atuais sobre o ensino de História, concluindo que elas vêm privilegiando um curto recuo temporal. De tal forma, a discussão é a cerca dos currículos e programas atuais ou recuados no máximo ao período Vargas, e os confronta com a produção historiográfica, estabelecendo um valor relativo para este ensino. Depois, a pesquisadora trata do ensino de História no Brasil, focando o olhar para a análise que interpreta o pensamento social relativo à educação escolar, como exemplo, a relação que estabelece entre o movimento intelectual do século XIX e a escravidão.
E por fim, a autora da continuidade ao tema em discussão no capítulo anterior, embora em contextos e com objetivos diferentes, entre os séculos XVI e XIX. Aqui o objetivo “é averiguar as formas de apropriação do conhecimento histórico e suas permanências na memória coletiva, por meio de representações reconhecidas como verdades históricas comprovadas”, diz Helenice aparecida.
Portanto, a partir das idéias discutidas na Resenha feita por Helenice Aparecida, do livro: História e ensino de História, de Thais Nivia Fonseca. Podemos perceber que até o final do século XX o ensino de História nas escolas está voltado para a historiografia, pautada na corrente positivista (narrativas e idealização de heróis). Sendo assim, vista apenas como disciplina escolar, ganhando foco enquanto ciência a partir das idéias marxistas.
O segundo texto apresenta como primeiro ponto de discussão, o conhecimento como leitura de mundo. O autor procura fazer uma reflexão inicial a cerca da escola, relatando como a mesma tem sido lugar para o desenvolvimento do papel social do professor, co-relacionado com a idéia de saber pronto e o espaço social de interiorização de regras. Neste contexto, se pode notar que muitas características do Positivismo ainda permanecem presentes nos dias atuais.
Por outro lado, introduzida com o Marxismo ou Materialismo Histórico, a concepção de História como ciência se concretiza no final do século XX. Assim, a escola, bem como o ensino de História ganha novos rumos. Segundo Paulo Knauss, a História enquanto ciência passa a ser fonte de pesquisa, investigação, crítica e indagação sobre a relação do sujeito com seus objetos de conhecimento, isto é, conhecimento e realidade passam a ser um processo em construção.
Vale ressaltar, que a produção do saber histórico, está ligada ao conhecimento científico, o qual apresenta objetividade ocasional, racionalismo, foco na linguagem e procedimentos da ciência, impondo-se ao conhecimento de senso comum. Neste sentido, o processo de aprendizagem deixa de ser entendido como transmissão ou assimilação do saber, passando a ser um processo em construção. Portanto, diz Paulo Knauss: “a aprendizagem se dá pelo despertar do sujeito, para aprender um objeto de conhecimento. E isto, só é possível por meio do deslocamento da integração ensino-pesquisa”.
Em foco similar, o processo de construção do conhecimento, segundo o autor, requer pesquisa cientifica e o sujeito investigador, ora representado pelo aluno individualmente ou de forma coletiva, dentro ou fora da sala de aula. Para ele, na escola a condição de trabalho coletivo, é instauradora do diálogo, favorecendo a comunicação entre docentes e dicentes, redefinindo suas bases, coloca o aluno na condição de sujeito investigador e dá espaço a Pedagogia da animação, favorecendo o lúdico e a integração do ensino-pesquisa.
No entanto, para que haja um ensino focado na pesquisa, como ressalta o autor, é preciso fazer uso dos documentos históricos, fatores imprescindíveis para a pesquisa histórica. E aqui é importante tomar cuidado, pois os mesmos podem se tornar problema a depender de como é utilizado. Para que sejam usados de forma positiva, os documentos sejam eles ilustrativos ou referência de autores, a depender do momento em que foi produzido devem atender a alguns critérios: linguagem adaptada e referências para não serem confundidos com produções historiográficas.
Entretanto, se forem usadas obras paradidáticas, como textos narrativos normatizados com atitudes saudosistas e idéias de heróis, trabalhados de forma aleatória, sem fundamentação e problematização, esses documentos se tornarão um problema, pois fogem a proposta de um ensino focado na pesquisa e investigação.
Complementando as idéias discutidas pelos autores anteriores, veremos agora os pontos apresentados por Selva Fonseca, em seu livro: Didática e prática de ensino de História. Para a autora devemos iniciar a discussão a partir de uma problemática: Qual história? Qual cidadania?É por meio dessas questões que poderemos perceber o papel da História na formação do cidadão.
Segundo Selva Fonseca, esta reflexão parte de duas premissas para o historiador: a primeira, é pensar a História como disciplina educativa e libertadora, pois desenvolve o papel de formar a consciência histórica dos homens, possibilitando a construção da identidade. E a segunda é ter consciência de que o debate sobre o significado de ensinar história processa-se, sempre, no interior de lutas políticas e culturais, logo aponta limites, possibilidades, desejos e necessidades historicamente construídas.
Vale lembrar, que o “ensino de História e a construção da cidadania assumem diferentes configurações nos diversos contextos políticos. Com a Ditadura de 64, por exemplo, a história ensinada tinha como fundamento teórico a historiografia tradicional positivista, europocêntrica e linear, organizada com base nos marcos, fatos da política institucional numa seqüência cronológica causal.” Diz o autor. Com esse método de ensino a história exclui o aluno não só do processo de construção do conhecimento, mas também da formação da cidadania, enquanto sujeito social.
Em resumo, todas as idéias aqui descutidas, são de extrema importância para nós enquanto futuros historiadores e educadores, pois nos permite não só conhecer um pouco da trajetória do ensino de História no Brasil, mas também leva-nos a refletir sobre o papel da História na formação do cidadão. Assim, somente o ensino de História voltado para a pesquisa, analise crítica das diferentes experiências humanas e a problematização, podem garantir um processo de ensino-aprendizagem de qualidade, comprometido com a responsabilidade educacional, política, cultural e social da escola, que garantam a inclusão e os direitos do cidadão que constituem uma sociedade democrática.

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